Criar

Mesmo que queria, não consigo não fazer música. Não consigo não criar. Há uns tempos comecei a divagar e a perguntar-me qual era o meu propósito. A minha vida parecia então um pouco despropositada. Fiz a mesma pergunta ao tarot e a cartomantes. Nenhuma das respostas foi satisfatória e cheguei à minha própria conclusão por agora: o meu propósito nesta vida é criar e ser feliz a fazê-lo. É assim que me encontro com o que quer que seja que ultrapasse o terreno, ainda que não saiba, nem eu nem ninguém, como nada disso funciona.

Mesmo que não sonhe viver da música e as minhas ambições tenham mudado, o propósito é criar, colaborar, gravar, editar, pensar no que vai ser partilhado e despejar nesse objecto de criação todo o meu espírito. Há prazer no processo e absoluta satisfação ao ver o resultado final. Caso contrário, por que me submeteria à, por vezes, difícil e assustadora tarefa da criação?

Para além disso, parece ser a coisa certa a fazer. Se temos talentos, podemos escolher guardá-los para nós, o que é legítimo, ou podemos partilhá-los com os outros. Algo me empurra para a partilha, ainda que por vezes me pareça ser irrelevante para os outros. Mas para o resto, aquilo que não vemos, estou convicta, não é. Vai daí, alguém ouve e se identifica, ou passa melhor o dia, ou muda de opinião acerca de algo. Já valeu a pena. Para mim e para eles.

Criar é uma maneira de ser.